quinta-feira, 2 de maio de 2013

Sobre a pouca literatura a respeito do futebol paraense



FEIRA DO LIVRO 2013: Foto Alzyr Quaresma
O período da Feira do Livro sempre me comove um pouco. Por mais que meu ritmo de leitura de livros não seja dos mais vorazes ou mais próximos do ideal para um jornalista [que é ler um bocado] gosto de percorrer os estandes, garimpar algumas pérolas e adcionar livros às minhas estantes - os quais, com o tempo lerei, como tenho lido.

Neste ano, longe da penúria de outros tempos, me permito algumas compras em grande quantidade [de promoções]. E eis então que meu faro me diz "rapaz, o futebol rende uns livros interessantes".

Há alguns anos pesquiso para ver se encontro o "Como o Futebol Explica o Mundo", uma análise antropológica dos impactos do futebol na sociedade global e das próprias mudanças dessa sociedade implicando nos hábitos e costumes do futebol. Esse aí eu nunca encontrei. O "Como o Futebol Explica o Brasil" eu já comprei. O autor não é o mesmo do outro, mas o espírito é similar, também recomendo a leitura. Fora isso. Como apaixonado por futebol, almanaques e livros de estatística do esporte também interessam. Daí, eis que eu paro e me deparo com a seguinte pergunta:

- O futebol é uma paixão imensa do povo paraense, e a feira do livro é o espaço que mais reúne a produção literária no estado ... cadê os livros sobre futebol paraense?

Você pode concluir que o paraense não gosta tanto assim de futebol, pois não produz material de referência e história sobre o assunto, ou pode dizer que não há incentivos, apoios e blá blá blá ... O fato é que temos bem poucas opções hoje em dia. A maioria delas. Baseadas em livros do jornalista Ferreira da Costa



Ferreira, jornalista esportivo com algumas décadas de serviço prestado, tem um trabalho de pesquisa realmente muito bom acerca de resultados históricos do futebol paraense. Boa parte das estatísticas do nosso futebol, creditadas ou não, são baseadas na pesquisa que ele levantou e de tempos em tempos atualiza. Se você procura um material do tipo almanaque e guia de consulta, os livros são um prato cheio. Muito recomendáveis. Além destes três, que o autor aqui conseguiu comprar e ler, Ferreira publicou vários livros sobre o futebol do estado. Se alguém tiver informação de onde eles podem ser comprados eu agradeceria profundamente.

Fora da bibliografia, assim digueimos, Ferreiriana, as opções vão se tornando mais escassas. O Clube do Remo, quando da ocasião de seus 90 anos, publicou um livro contando sua história e destacando seus feitos. Não houve republicação e hoje ele é um livro bem raro. No ano do seu centenário lançou um livro também, com dados atualizados. Realmente não tenho maior conhecimento sobre o teor desses livros, mas imagino que haja mais crônicas além do conhecimento enciclopédico.

A Tuna, quando de seu centenário, em 2003, produziu um belo compêndio de matérias e crônicas chamado "Tuna - Sua vida e Glória" através de seu finado grande benemérito Manoel Oliveira. O livro pode soar um tanto confuso ao leitor que procurar lê-lo de forma linear pois os fatos narrados nem sempre estão organizados de forma linear - você encontra diversos bilhetes, matérias de jornal e crônicas narrando a história do clube, mas os períodos variam grandemente. O livro busca, mais do que outra coisa, ser uma homenagem e tributo à longa história da agramiação portuguesa. Por sinal, fantástico o trabalho de resgate de imagens e fotografias desses longos períodos.

OBS: centenários são datas muito boas pra lançar livros. Se uma agremiação atinge 100 anos de existência, história é o que com certeza não falta para contar. Remo e Tuna lançaram livros alusivos à data e o Paysandu programa um também para 2014.

Fora isso, temos o recém lançado livro do Expedito Leal - outro jornalista de muitos anos de labuta - sobre o clássico Re x Pa [o qual está à venda na cidade mas não na feira do livro. Entenda-se uma coisa dessas...] e obras perdidas no tempo e história. Pergunto-me. São mais de 100 anos de futebol no estado, onde estão as demais obras?

Cadê os compêndios de crônicas baseadas no futebol? Há no mínimo uma pequena quantidade de obras dessa natureza, como o conto "Promessa em Azul e Branco" da Eneida de Moraes. Onde estão os livros que usam do futebol para explicar a nossa realidade? Onde está um possível "Como o Futebol Explica o Pará"? Não temos sequer livros alusivos aos grandes craques e nomes do futebol que jogaram aqui. Tirando algumas iniciativas esporádicas como a série Cards Super Bola fica difícil saber qual era a história do seu time antes das câmeras de TV registrarem, porque os próprios clubes parecem não se importar muito em registrar.

Em suma. Há uma plêiade de possibilidades não exploradas nesse segmento. Futebol e literatura tem sim tudo a ver, pois o esporte está inserido na cultura, tradição e história de um povo. É estrategicamente importante que ele subsista como manifestação cultural fora dos quatro campos pois do contrário os clubes deixam de ganhar torcedores ao esconder seus passados gloriosos, e tendem a perder novos torcedores ao expô-los apenas o seu presente pouco animador. Fica a provocação.

3 comentários:

expedito leal disse...

Meu caro Taion,
Através de um amigo, seu comentário veio até meu e-mail.
De minha parte, já dei minha contribuição(não academicista ou literária, não tive essa intenção).Meramente jornalística, através da sempre lembrada Revista GOL(em duas etapas)cuja coleção (pouca gente sabe) pode ser encontrada na biblioteca do Centur.
Publiquei algumas revistas(só uma sobre um Bi campeonato do Paissandu/1981 e quase uma raridade encontrar) e sobre a fase áurea do Remo nos anos 90(sim, tenho time, sou remista e nunca escondi de ninguém) e fui o autor do álbum do Centenário(2005).Agora, em março, lancei o Re-Pa Rivalidade Gloriosa que está sendo um sucesso(inesperado)de venda.Há por todas as bancas e livrarias.
De fato, nossa bibliografia sobre o nosso futebol é escassa demais.O F. da Costa tem sido um pesquisador incansável.Somos amigos.De minha parte tive um experiencia com um outro livro um tanto frustrante na Feira.Foi em 2005 com o "Um jornal de campanha" que muita gente confundiu meu objetivo ao contar a saga do "Diário do Pará" do qual fui um dos fundadores.Mas falei, também sobre outros jornais contemporâneos.Minha biblioteca sobre o futebol tem algumas raridades.Pelo menos para o meu gosto que não amarro muito as coisas da vida em termos de literatura profunda e muito menos de literatice.Sou jornalista de longa rota e tudo o que escrevo é no estilo enxuto(pelo menos assim me esforço)e objetivo do jornalismo.
Se quiser conversar sobre o assunto, poderemos marcar um papo em meu escritório.
Abs.
Expedito Leal






Taion Almeida disse...

Olá Expedito, fico feliz com o seu prestígio ao nosso trabalho :)

Ouvia muito falar sobre o seu trabalho desde que era estudante da UFPA - minha ex-professora Regina Alves falava muito a seu respeito.

Tinha ouvido falar dessas inciativas de revistas e jornais. Lembro de ter assistido uma entrevista sua no finado programa de entrevistas da Mais Tv. Não sabia que o livro do centenário azulino tinha sido escrito por você, sabes onde posso encontrá-lo, quero aumentar minhas referências sobre o futebol paraense. Encontrei algumas cópias a venda do Re-Pa - Rivalidade Gloriosa e devo estar fazendo a aquisição nos próximos dias.

Não sei se houve uma interpretação nesse sentido mas a minha provocação por mais livros e materiais referentes ao nosso futebol não é uma cobrança a quem já quem contribuiu - acho todas as contribuições muito válidas - é mais uma provocação para que mais gente contribua.

Acho que temos pesquisadores para fazer uma leitura mais científica e um tanto de literatos e artistas para uma leitura mais poética sobre o nosso esporte número 1. Gostaria que essas pessoas dessem mais contribuições pois a categoria dos jornalistas tem cumprido bem seu papel nesse sentido.

Adoraria bater um papo sobre futebol paraense, iniciativas envolvendo o esporte da terra ou simplesmente histórias da profissão [que eu estou começando a coletar e acredito que você tenha um monte para contar].

Mais uma vez obrigado pelo prestígio, estamos aí para qualquer troca de idéias. Abraços.

Expedito Leal disse...

Pois é, meu caro Tayon, o Mauro Tavernnard lançou recentemente a biografia do Alcino
Para meu gosto -além, óbvio de azulino-uma bela obra.Repleta de casos e causos nos quais o Negão Motora era pródigo.Mas ainda falta uma sobre no Quarenta e o China da Tuna.Carcaças e com biografias ricas em fatos e fintas de mestres da bola.Sou amigo do Quarenta mas um de deus filhos teria a preferência para falar do o pai
Não sei se já está escrevendo.Vou sugerir ao Carlos Mendes que promova um debate sobre o tema.Ela acaba de promover um programa através da internet.E o Linha de Tiro.Abs