sexta-feira, 3 de maio de 2013

Não precisamos de Caxirolas ...

Esta semana o portal da Veja publicou esta matéria que versa sobre o fatídico episódio da "chuva de cachirolas" no gramado da recém reformada Fonte Nova. O estádio, ainda cheirando a tinta, representa o projeto brasileiro para organizar a copa do mundo, o instrumento musical, uma jogada de marketing de oportunidade. Sujar o palco da Copa do Mundo com um instrumento que deveria virar símbolo do torneio - como foi a vuvuzela na Copa da África do Sul - é algo bem feito em termos de marketing [pra dizer o mínimo].

Destaco aqui trecho interessante da matéria.

"
Brown patenteou a invenção - apesar de o instrumento ser basicamente igual ao caxixi, o chocalho de palha que acompanha o berimbau. A fabricação e distribuição ficou com uma multinacional chamada The Marketing Store. O plástico é produzido pela Braskem. Elas não revelam quanto Brown receberá de royalties pelo produto, que já está chegando às grandes redes varejistas e lojas de material esportivo. A semelhança com o caxixi é reforçada pelo fato de o plástico imitar a textura da palha. Dentro da caxirola, no lugar das sementes que fazem barulho no caxixi, há grãos de plástico."

Igual ao caxixi, porém feito de plástico, através de convênio com duas multinacionais e a ser implantado na marra para dar um tom "exótico" à Copa de 2014. Só posso comentar uma coisa - UFA! AINDA BEM QUE NÃO DEU CERTO! Que grandissíssima pilantragem essa Caxirola! Se registra e se inventa uma maneira de reproduzir um efeito natural de um instrumento musical étnico de forma artificial. Trocando fibra por plástico! Cadê a "Copa da Ecologia" e "Copa Verde"? Que diabos de sustentabilidade é essa? E, principalmente, porque enfiar goela abaixo uma tradição que não existe e ainda por cima atrelando ela a grupos empresariais internacionais ao invés de valorizar um elemento da cultura brasileira original? Porque diabos uma Caxirola se o Caxixi existe, faz o mesmo efeito, é mais barato e ainda é biodegradável?

LONG LIVE CAXIXI!
Já imaginou que ao invés de financiar a compra e produção em massa de desses adereços de plástico que vão apodrecer jogados nos cantos depois que o torneio acabar [e durante o torneio também, provavelmente] poderíamos estar jogando holofotes para um instrumento musical tradicional? E jogando holofotes discutir a contribuição negra na formação da cultura do país. Até o tatu-bola que é mascote do torneio, apesar do seu nome tosco [Fuleco] ainda representa a fauna nacional e joga luzes sobre a situação desse bichinho em extinção. O que diabos a Caxirola nos leva a refletir?

O que mais me dói ao pensar na substituição do caxixi pela caxirola, é que optar pelo caxixi poderia ser um estímulo necessário para o fomento de uma  cadeia produtiva baseada em artesanato. Através dela se poderia capacitar famílias e cidadões para compor essa cadeia produtiva de construção e distribuição do instrumento. O estímulo da Copa possívelmente ajudaria inserir o instrumento - e sua cultura - no cotidiano, principalmente através das crianças. Isso tudo sem ter de pagar royalties a ninguém e ajudando uma galera a tirar seu trocadinho com o trabalho. Isso seria um projeto econômico-cultural inclusivo visando a Copa de 2014. Mas parece que esse nunca foi o objetivo.

Bom, as Caxirolas estão sendo produzidas. Vão entupir as ruas delas porque vão precisar vender o que produziram e vão jogar pra cima da gente. O caxixi vai continuar uma realidade nos segmentos que o utilizam e somente lá. A febre consumista virá e ninguém vai ligar pra isso quando o torneio acabar. Mas, façamos um favor a natureza com isso tudo - não jogue sua caxirola no gramado, leva mais de 200 anos pra ela ser reassimilado pela natureza, jogue no lixo mesmo.

Um comentário:

Jean Red Grey disse...

A cada dia que passa só me convenço ainda mais que a copa de 2014 o Brasil já perdeu o que poderia ganhar!