quarta-feira, 8 de maio de 2013

Águia precisa reaprender a voar

Elemento de novidade no futebol paraense desde 2008, quando se tornou habitual participante de competições nacionais, o Águia de Marabá sinaliza para uma situação de ocaso essa temporada. De lá pra cá foram 2 vice-campeonatos estaduais, uma quinta colocação na série C de 2009 e uma surpreendente participação da Copa do Brasil com 3 vitórias e 1 derrota, justamente a que eliminou o time diante do Fluminense [Sim, o Flu da dupla Fla-Flu].

No entanto as boas campanhas tem ficado no passado. Desde 2010 o time não se classifica - e geralmente nem briga por classificação - na série C. Em 2012 se caracterizou por uma equipe que voou em campo no parazão e não soube decidir, perdendo os dois turnos. E na série C, pior ainda, alternando resultados bons ou razoáveis no Zinho Oliveira com resultados desastrosos fora de casa, como a derrota por 6x0 para o Santa Cruz. O rebaixamento só foi afastado na última rodada. Em 2013, o time começou atrasado a preparação para a temporada e acabou rebaixado para a primeira fase do parazão 2014.

De lá pra cá vaias e apupos se tornaram rotineiros num estádio Zinho Oliveira cada vez mais vazio. Este ano, o Águia é o Pará na Série C. Talvez nem a torcida paraense ou os gestores do time tenham aberto os olhos para a importância que é a, no mínimo, manutenção do time na competição. Subir para Série B seria um sonho muito ousado, mas se manter em evidência disputando a série C pode ser um caminho para o time começar a se estruturar - a série C hoje é uma competição com muito mais perspectivas de lucro que do era há 5 anos atrás.

Caindo o Águia para a Série D é bastante razoável o risco do time desparecer do cenário do futebol nacional, como foi com o São Raimundo, que teve ascenção relâmpago - primeiro campeão brasileiro da quarta divisão - e queda ainda mais rápida. Torcemos para as coisas se acertem, mas realmente preocupa o estagio de preparação que o clube vem desenvolvendo para essa terceirona. Vejamos:

DISPENSAS A RODO:

Tudo bem, ser rebaixado é uma coisa que dói e inevitávelmente demanda mudanças no grupo de atletas. Mas a mudança que o Águia fez foi um tanto radical demais. A zaga era fraca, sem dúvida, mas isso não era motivo para dispensar os 4 laterais do time. Com isso se perde todo o entrosamento construído, que poderia evoluir e suplantar algumas dificuldades que o time apresentou.
BALÃO MARABÁ - bom desempenho, porém dispensado.

Na zaga as dispensas foram muitas também. Permaneceu basicamente o veterano Edkléber, de 37 anos. Os meias Rafinha e Balão Marabá, algumas das principais opções ofensivas do time, também foram mandadas embora. Questões extra-campo e de relacionamento aparte, saiu muita coisa que não deu certo, mas saiu também boa parte do pouco que deu. E isso realmente não é um bom começo de trabalho.

CONTRATAÇÕES A RODO:

Outra situação que nunca foi muito benéfica. A se elogiar o fato de quatro dessas contratações - Roberto, Charles, Rayro e Mael, vindos do Santa Cruz da Cuia com Grana - já conhecerem o futebol do estado. Tirando Mael, os outros três até já jogaram no Águia. Agora os atletas vindos do Veranópolis, Botafogo da Bahia e companhia vão ter de antes de, antes de qualquer coisa, se adaptar ao clima da região e à própria rotina do futebol paraense.
RAYRO - Destaque em 2012 está de volta
O Águia já acertou nessas contratações de outros centros, de jogadores desconhecidos, mas tem algum tempo, também, que não aparece uma surpresa boa. Não sou daqueles cronistas que acham que tem que trazer jogador com nome ou salário astronômico pra vencer, tem que trazer jogador que queira crescer na profissão de jogue sério, mas sou muito receoso com aquisições sem referência. É torcer pra dar certo, mas, de cara, já ter de colocar um porém na questão do entrosamento, que não vem do dia pra noite.

FUGA PARA PARAUAPEBAS

A diretoria do clube, na figura do seu presidente Sebastião Ferreira, o Ferreirinha, anunciou que a pré-temporada para a Série C seria realizada no município de Parauapebas e que um amistoso já estaria sendo agendado no município para encerrar os preparativos. Começou-se uma discussão em Marabá sobre a intenção do time em mandar seus jogos da Terceirona no estádio Rosenão, em Parauapebas. Os torcedores mais fanáticos ficaram furiosos com essa perspectiva. Talvez fiquem furiosos com a minha avaliação também mas acho que não seria uma idéia tão ruim assim não.

ÁGUIA EM PARAUAPEBAS - Alguns bons momentos
com a torcida local.

A equipe Marabaense chegou a mandar várias partidas no município no período em 2009. Se disse à época que o clube chegou a fechar contratos de patrocínio na cidade e chegou a contar com um apoio expressivo do torcedor local - carente de times para apoiar. Diz-se que por uma intervenção do na época prefeito de Marabá, Maurino Magalhães, reformas emergenciais foram realizadas no estádio Zinho Oliveira para que os jogos de menor porte pudessem voltar a Marabá. Então com sua capacidade limitada a 2.500 pessoas, o Zinho voltou a ter sua capacidade para 4/5 mil torcedores (fontes divergem sobre a capacidade real).

Mas o caso é que, mesmo com as reformas, o Zinho Oliveira continua não sendo um dos melhores estádios do futebol paraense. É desconfortável para a torcida, o gramado é muito ruim e sua drenagem é particularmente precária - o jogo contra o Paragominas, realizado esse ano, é prova máxima disso.

Se por um lado estádios acanhados tem o chamado "efeito caldeirão" empurrando o time da casa e amendrontando os adversários, de certa forma nem isso o Águia vinha contando nos últimos tempos. Com a sucessão de decepções e maus resultados, a torcida vinha comparecendo cada vez em menor número no estádio Marabaense. O prometido estádio municipal de Marabá, em obras desde 2009, não saiu do papel ainda - e também enfrenta certa rejeição por se situar muito longe do centro da cidade. "Se o torcedor já não está indo para o Zinho, que é no meio da cidade, imagina se ele vai se abalar pra Transamazônica pra ir ver o Águia jogar" questionaram alguns torcedores.

Fugir da pressão e cobrança em sua cidade natal talvez tenha alguns efeitos benéficos sobre o elenco. Quem sabe em um ambiente mais leve e com a torcida de Parauapebas vestindo a camisa, resultados melhores não apareçam?

JOÃO GALVÃO - SAI OU FICA?

Eis um dos tópicos mais polêmicos, não só entre a torcida marabaense como pela própria imprensa esportiva do Pará. Não há dúvidas que o feito de permanecer 5 anos no comando do time chama a atenção em um esporte onde a vida útil de um treinador em um time costuma ser tão abreviada - o Paysandu foi campeão paraense com a estupidez de 5 técnicos diferentes ao longo do torneio!
GALVÃO - Já não é mais unanimidade.
No entanto, se não há dúvida quanto aos méritos de Galvão nos bons momentos que o time viveu de 2008 pra cá, seu estilo teimoso e os resultados cada vez menos empolgantes tem gerado muitos questionamentos. Galvão não é do técnico estilo "grande estrategista" mas é um ótimo motivador e conhece o clube de ponta a ponta - muito possívelmente mesmo quando vier a abandonar o posto de técnico não se afaste do clube.

A resposta para essa pergunta sobre mudança de comando é na verdade bastante complexa. Estamos um momento de destaque para os técnicos regionais - Cacaio e Osvaldo Monte Alegre surpreenderam em determinados momentos do Parazão, Charles Guerreiro parece cada vez mais maduro como treinador... mas não é uma ciência exata que algum deles chegasse e resolvesse a situação do Águia. O clube Águia deixou de crescer de 2008 pra cá - ainda não tem divisões de base, não estádio próprio, programas do tipo sócio torcedor ... a bem dizer o próprio quadro societário do Águia não é tão expressivo assim, ainda.

Penso - se os salários estiverem em dias e as condições para trabalho forem suficientemente boas, o momento para a troca seria agora. A base do time vai ser remontada, jogadores ainda vão ser apresentados ao treinador e começar o treino no clube - seria um dos momentos menos danosos para fazer uma mudança de rota. MAS, se as condições não estão tão ideais assim, não creio que vá trazer grandes benefícios mudar de técnico. Como os jogadores, o trabalho de um técnico aparece com o tempo e a partir das condições que ele recebe para trabalhar.

Os comentários nessa reta final sobre instatisfação no elenco e salários atrasados dão a entender que o clima interno no Águia, no mínimo, possui algumas situações que precisam ser melhor resolvidas.

PARECER FINAL = SEJA O QUE DEUS QUISER

A sensação que o Águia hoje navega de forma errática por um mar cada vez mais revoltoso, que é a Série C, é inegável, mas fica a torcida para que esse time, que acostumou o torcedor paraense a se surpreender, volte a ser uma boa e inexperada surpresa. Que volte a ser o time que joga melhor fora de casa do que em casa, que derruba os gigantes e que faz o torcedor adversário perder a paciência com esse time "chato" de ganhar.

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